Essência da Palavra: Evangelho de João
- Mapeando Livros
- 18 de jun.
- 7 min de leitura

O Evangelho de João é um dos relatos mais antigos e profundos sobre a vida de Jesus. A gente descobre, lá no final do livro, que ele foi escrito por alguém que conviveu de perto com Jesus — um discípulo tão próximo que é chamado de “aquele a quem Jesus amava”. Tem quem diga que era João, o filho de Zebedeu, um dos doze discípulos. Outros acham que era um outro João, um líder mais velho da igreja em Jerusalém. Mas, no fim das contas, o mais importante é que quem escreveu estava lá, viu tudo de perto e quis registrar esses acontecimentos com um objetivo muito claro: ajudar o leitor a crer que Jesus é, de fato, o Filho de Deus — e que, ao crer nisso, se possa experimentar uma vida nova, através Dele.
O livro foi escrito de forma muito bonita. Na primeira parte, João abre com um poema, depois vai trazendo uma série de episódios onde Jesus realiza sinais e milagres. Conforme essas histórias se desenrolam, a presença de Jesus começa a incomodar os líderes religiosos da época, até que um milagre maior — a ressurreição de Lázaro — desperta ainda mais revolta e leva os líderes a planejarem a morte de Jesus. A partir daí, começa a segunda parte do Evangelho, que foca nos últimos momentos de Jesus com os discípulos, sua prisão, julgamento, morte e, finalmente, Sua ressurreição.

Mas vamos focar aqui na primeira metade do livro. João começa com um poema poderoso que diz que, “No princípio, a Palavra já existia”. É uma referência direta à criação do mundo, lá em Gênesis. Aqui, João apresenta Jesus como essa Palavra viva de Deus, que não só existia desde sempre, mas que se fez carne — se tornou humano — para viver entre nós. Ele usa também imagens do Antigo Testamento, como o tabernáculo, para mostrar que em Jesus, a presença divina passou a habitar no meio do povo.
Depois dessa introdução, a narrativa segue mostrando como João Batista foi o primeiro a reconhecer quem Jesus era e, a partir disso, outros começaram a segui-lo. Cada novo encontro com Jesus revela algo diferente sobre Ele, e as pessoas começam a reconhecer os muitos papéis que Ele cumpre — Messias, Filho de Deus, aquele que tira o pecado do mundo.
Do capítulo 2 até o 12, João organiza as histórias de uma forma bem interessante: em cada situação, Jesus realiza um sinal, faz alguma afirmação sobre Si mesmo, e isso gera confusão ou discussão entre as pessoas. No final de cada história, fica aquela pergunta no ar: afinal, quem é Jesus?
Logo no início, por exemplo, Jesus transforma água em vinho durante um casamento, mostrando de forma simbólica a generosidade e a abundância do Reino que Ele veio trazer. Depois, no Templo de Jerusalém, Ele confronta os vendedores e diz que, em breve, o verdadeiro encontro entre o céu e a terra aconteceria não no Templo físico, mas no Seu próprio corpo.
Mais adiante, encontramos Jesus conversando à noite com Nicodemos, um mestre judeu, e dizendo que ninguém pode ver o Reino de Deus sem nascer de novo — ou seja, é preciso uma transformação completa de dentro pra fora. Em outro momento, Ele conversa com uma mulher samaritana e se apresenta como a fonte de uma água viva, capaz de saciar de verdade a sede do coração humano.
João segue narrando episódios que acontecem durante festas judaicas importantes. Em uma delas, Jesus cura um homem no sábado e isso gera polêmica com os líderes religiosos, que passam a persegui-lo. Durante a Páscoa, Jesus alimenta uma multidão e, quando o povo começa a querer mais, Ele se apresenta como o verdadeiro Pão da Vida. Muitos se afastam Dele nesse ponto, pois não entendem essa mensagem mais profunda.
Durante a Festa dos Tabernáculos, Jesus afirma ser a luz do mundo e a fonte de água viva, o que divide ainda mais as opiniões sobre quem Ele seria. Alguns começam a crer, outros se ofendem, e os líderes religiosos ficam cada vez mais determinados a tirá-lo do caminho.
Tudo isso vai ganhando força até o ponto crucial: a morte e ressurreição de Lázaro. Jesus sabe que voltar à região onde Lázaro vivia colocaria sua própria vida em risco, mas mesmo assim Ele vai, por amor ao amigo. Esse milagre impressiona a todos e acelera os planos dos líderes para matar Jesus. Mesmo assim, Ele segue para Jerusalém, sabendo o que o espera.
Essa primeira parte do Evangelho de João termina mostrando Jesus caminhando para o momento em que Ele vai entregar Sua vida — um ato de amor que, mais adiante, vai culminar na cruz e na ressurreição.
Depois de entendermos, lá no começo, que João escreveu este evangelho com um propósito bem claro — mostrar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, a própria Palavra viva que revela quem Deus é —, agora entramos na segunda parte do livro.
João constrói a primeira metade do evangelho nos mostrando os sinais que Jesus realizou e as grandes declarações que Ele fazia sobre Si mesmo, afirmando ser o cumprimento de toda a história de Israel. Mas, como era de se esperar, tudo isso causou muita polêmica. Os líderes religiosos não aceitaram essas afirmações e começaram a confrontá-Lo. Esse conflito foi se intensificando até que, quando Jesus decide voltar para Jerusalém para ressuscitar Lázaro, Ele praticamente sela o seu próprio destino. Esse milagre tão impactante fez com que o plano para matá-Lo ganhasse força — e aí entramos na segunda metade do evangelho.

Essa parte se concentra, em grande parte, na última noite de Jesus com os discípulos. Ele sabia que estava perto de ser entregue e, naquele jantar, faz algo totalmente inesperado: se ajoelha e lava os pés dos discípulos. Um gesto impensável para um mestre, um rabino da época. Com isso, Jesus queria mostrar que a verdadeira natureza de Deus é um amor que se entrega e serve — um amor que vai além das expectativas humanas. Mais do que um simples gesto, aquele momento apontava para o que Ele estava prestes a fazer: entregar a própria vida por amor ao mundo.
Ali, Jesus também deixa um novo mandamento: que os discípulos amem uns aos outros como Ele os amou. Que a marca dos seguidores de Jesus fosse justamente essa — um amor genuíno, demonstrado em atitudes concretas.
A partir desse ponto, Jesus começa um discurso mais longo, preparando os discípulos para o que viria. Ele fala sobre a Sua partida, o que causa tristeza neles, mas logo explica que essa saída é necessária, porque assim o Espírito Santo viria. Esse Espírito, chamado de Consolador ou Advogado, seria a presença divina que estaria com eles o tempo todo, em todos os lugares.
Enquanto estava em carne, Jesus só podia estar em um lugar de cada vez. Mas, com o Espírito, a presença de Deus se tornaria acessível em todo lugar, a qualquer momento. E mais: o Espírito teria um papel fundamental — guiar, consolar, transformar, capacitar os discípulos para que eles pudessem dar continuidade à missão de Jesus no mundo, vivendo e espalhando esse amor que Ele ensinou.
Jesus também fala que aqueles que escolherem seguir esse caminho certamente enfrentariam oposição — assim como Ele foi rejeitado, seus seguidores também seriam perseguidos. Mas os encoraja a não temer, pois Ele já havia vencido o mundo. Uma vitória que, como veremos, não tem nada a ver com o tipo de triunfo que o mundo costuma valorizar.
Chegando ao momento da prisão, João descreve de forma brilhante: quando os soldados vêm prender Jesus e perguntam quem Ele é, Ele simplesmente responde “Eu sou”. E, com essa afirmação, eles recuam. Não por acaso, João constrói no evangelho toda uma sequência onde Jesus diz “Eu sou” — Eu sou o Pão da Vida, a Luz do Mundo, a Porta, o Bom Pastor, a Ressurreição, o Caminho, a Verdade e a Vida, a Videira Verdadeira —, ligando diretamente Jesus ao próprio nome de Deus revelado no Antigo Testamento.
Esse é o clímax: no exato momento em que Ele se entrega, revela, mais uma vez, quem Ele é.
Depois disso, Jesus é levado a julgamento — primeiro perante o sumo sacerdote e depois diante de Pilatos, o governador romano. Pilatos precisa considerar com seriedade a acusação, afinal, Jesus era visto como alguém que se dizia rei. Mas Jesus deixa claro: o Seu reino não é como os reinos deste mundo. Ele é, sim, Rei — mas de um reino totalmente diferente, que não se baseia em poder humano, mas em amor, entrega e serviço.
E é justamente na cruz que essa visão de realeza se manifesta por completo. Ali, Jesus conquista a verdadeira vitória — não derrotando os inimigos com força ou violência, mas se entregando em um ato de amor radical. Um amor que vence o pecado, o mal e a morte.
Depois da crucificação, Jesus é sepultado. Mas no terceiro dia, o inesperado acontece: o túmulo está vazio. Maria é a primeira a vê-Lo ressurreto e, logo depois, outros discípulos também testemunham o milagre.
Aqui, João amarra mais um padrão que foi construindo ao longo do livro. Desde o começo, ele nos apresenta os sinais — o primeiro foi a transformação da água em vinho, depois a cura do filho de um oficial, e assim por diante. O sexto grande sinal foi a ressurreição de Lázaro, que custou a própria vida de Jesus. E agora, com a ressurreição dEle, temos o sétimo e maior de todos os sinais. É o ponto culminante de toda a história: Jesus, o Filho de Deus, vence a morte.
Depois disso, Jesus aparece aos discípulos, sopra sobre eles o Espírito, como havia prometido, e os envia para continuar a missão. O evangelho encerra com um epílogo belíssimo: um encontro de Jesus com os discípulos à beira do mar. Eles estão pescando, sem sucesso, até que Jesus aparece, dá uma orientação simples e, ao obedecerem, uma enorme quantidade de peixes é capturada. É uma cena que mostra que o segredo do discipulado não está no esforço humano, mas em ouvir a voz de Jesus e segui-Lo.
Por fim, Jesus conversa com Pedro, confirmando o seu papel de liderança na nova comunidade. Mas João — o autor do evangelho — termina destacando que a missão dele seria outra: testemunhar, registrar, contar essa história para que muitos outros pudessem crer. E é isso que ele faz neste evangelho: nos entrega um relato profundo, transformador, sobre quem é Jesus, o Messias, o Filho de Deus.
Esse foi um pequeno resumo do Evangelho de João, espero que ajude a sua conexão com a Palavra de Deus.
Com fé,
T.P.M
Comentários